segunda-feira, 22 de julho de 2013

OS JOVENS DE FRANCISCO. QUEM SÃO ELES?

Os jovens de Francisco. Quem são eles?

A Jornada Mundial da Juventude - JMJ é a oportunidade de Francisco encontrá-los, escutá-los e compreender as dinâmicas em que vivem


Jovens católicos: filhos de um Brasil em transformação
Por Rodrigo Coppe Caldeira
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é uma criação do papa João Paulo II. Atento aos "sinais dos tempos", chave interpretativa para a Igreja Católica contemporânea, criou um evento, que, de dois em dois ou três em três anos, repete-se em algum lugar do mundo.

Assinaladas por partilhas e testemunhos de fé, atividades culturais, missas e catequeses, a JMJ é o momento em que a igreja vira seus olhos e ouvidos aos jovens, peça indispensável para a construção e manutenção das comunidades cristãs.

Quem são os jovens católicos brasileiros que ouvirão a voz do papa Francisco? Quais são seus questionamentos, dramas e esperanças? Se situamos esses jovens no arco temporal do início dos anos 1980 para cá, podemos afirmar que são nascidos num Brasil em transformação.

Perpassaram a crise das "grandes narrativas" e as incertezas de um sistema econômico contraditório, baseado no hiperconsumo estridente. Conheceram um Estado-nação em decadência, de identidades dilaceradas, no qual vige a sedução dos radicalismos. Vivem uma realidade em rede "full time". Convivem, enfim, com uma insegurança ontológica frente a uma sociedade cujo objetivo é a maximização do prazer, o bem-estar e o desempenho ótimo.

"Pari passu", observa-se a emergência de um "mercado de sentido", ao qual as religiões tradicionais, especialmente o catolicismo, se veem obrigadas a se adequar. Seus discursos devem responder aos desafios lançados pelo aprofundamento da destradicionalização da vida. O passado é compreendido como nada mais do que um museu de doutrinas e práticas fossilizadas.

Francisco, nos seus quatro meses de pontificado, apresentou ao mundo, com palavras e gestos, uma forma de pensar o "ser cristão" destacada dessa perspectiva cultural dominante, na qual os jovens estão mergulhados. Deixou a cadeira vazia num concerto preparado para ele, ambiente para "ver e ser visto".

Criticou os carros luxuosos do Vaticano, pediu que retirassem da Catedral Metropolitana de Buenos Aires uma estátua sua. Deseja simplicidade e equilíbrio num mundo de excessos, exclusão e marginalidade.

Se é preciso uma renovação da igreja romana a fim de que o Evangelho seja fermento no mundo - e com isso o papa concorda - não será se ajoelhando às exigências imediatas das sensibilidades contemporâneas que se obterá tal resultado.

Isso não quer dizer que se deve deixar de fazer uso dos instrumentos mais modernos de comunicação. Ao contrário, possibilitar o recebimento de indulgência plenária àqueles impedidos de estarem fisicamente na JMJ, mas acompanham "com o coração" o seu desenrolar pela web demonstra a atenção de Francisco aos hábitos dos jovens que ele intenta atingir.

A JMJ é a oportunidade de Francisco encontrá-los, escutá-los e compreender as dinâmicas em que vivem, a fim de encontrar caminhos para construir pontes entre a igreja e a juventude. O papa parece observar esse que é o maior desafio da igreja ao permitir o acesso à indulgência pelas redes sociais.

O interesse dos jovens pelas várias dimensões da espiritualidade e da mística é uma constante. A busca de experiências totalizantes de sentido permanece como um dado antropológico. Temos sede de absoluto. Mas o abismo entre crença, pertença e prática, fruto de um longo processo histórico, é inegável entre os jovens e os não tão jovens do nosso país.

A frase "Jesus sim, igreja não", que ressoa por todos os cantos, pode ser considerada protótipo dessa geração sedenta por sentido, mas que não vê nas instituições religiosas um lugar de acolhimento para vivê-lo. Eis o nó górdio que Francisco começa a tentar desatar.
Folha de S. Paulo, 20-07-2013.

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